Literatura História de ‘Diego do Violino’ vira livro que aborda a inspiração na arte e sentimentos de gratidão e esperança.

Trazendo relatos de familiares e amigos próximos, obra se aprofunda na
vida de menino que ficou marcado por uma das fotos mais emocionantes
dos últimos tempos

Comunicação

Diego Frazão Torquato tinha apenas 12 anos de idade quando, com
lágrimas no rosto, reproduzia uma bela harmonia em seu violino para se
despedir de seu professor e coordenador social da ONG AfroReggae,
Evandro João da Silva, que fora brutalmente assassinado durante um
assalto no Centro do Rio de Janeiro. A cena, registrada pelo fotógrafo
Marcos Tristão, foi reconhecida como “uma das fotos mais emocionantes
dos últimos tempos”.

Através de sua melodia melancólica e seu olhar triste, o pequeno garoto
de Parada de Lucas impactou a toda uma geração. Sob o título de “Luto no
AfroReggae”, a história ganhou a capa dos principais jornais do Brasil e
agora, mais de uma década depois, se torna livro pelas mãos do escritor e
radialista Josimar Salles. “Anjo do Violino: lágrimas de gratidão” traz
relatos de familiares e amigos próximos enquanto se aprofunda em uma
história de inspiração na arte e luto de quem se foi antes da hora.

Assim como a cena que o deixou famoso, a vida de Diego ficou marcada
por muitos altos e baixos. De origem humilde, ele encontrou na música
não apenas um lazer, mas uma resposta a todos os obstáculos de uma
vida sofrida. Em um relato pessoal feito ao autor da obra, a irmã do
menino, Priscila Torquato, contou que, apesar dos momentos difíceis, a
arte servia como um porto seguro para a família e, especialmente, para
Diego.

“Quando nossa mãe foi diagnosticada com câncer foi um período muito
complicado, e mesmo assim o Diego nunca perdeu a esperança de que ela
seria curada. Quando ela iniciou o tratamento, era muito difícil para nós a
vermos naquela situação. E a música serviu como um refúgio, um
momento de calma e alegria dentro de casa”, explicou a irmã.

Nascido de forma prematura, com apenas sete meses, Diego sempre teve
uma saúde frágil. Aos quatro anos de idade foi diagnosticado com
meningite e tuberculose. Apesar disso, nunca desistiu da vida, pelo
contrário – mesmo durante os períodos em que ficava internado no
hospital, sempre se mostrou uma criança alegre que inspirava amigos,
familiares e todos que o conheciam.

Outro relato marcante foi o de Matheus Lourenço da Costa Lima, amigo
de Diego que aparece ao seu lado na icônica foto que estampou os jornais.
De acordo com ele, era gostoso ficar perto de azul – como
carinhosamente era chamado dentro da comunidade – que transmitia
energia positiva onde quer que fosse.

“Ele era uma criança muito alegre e feliz, que tinha um grande entusiasmo
com a música. Sempre tocava com emoção e contagiava as pessoas. Era
uma criança simples, mas que se tornou um ídolo na comunidade. Eu era
muito tímido, e tinha uma afinidade maior com ele, então estávamos
sempre juntos. Ficar ao seu lado sempre me fez bem, ele tinha um astral
diferente dos outros”, relatou o amigo

A ideia de transformar esses relatos em livro surgiu através de uma
situação inusitada. Enquanto procurava por histórias inspiradoras para seu
programa de rádio, Josimar se deparou com a imagem do “Diego do
Violino”, como ficou conhecido na época. De forma despretensiosa,
decidiu postar a foto nas redes sociais seguidas de um breve texto – o
resultado impactou até ele mesmo: em menos de dez dias, foram mais de
13 milhões de pessoas alcançadas com a publicação.

Assim, percebeu que precisava aprender mais sobre aquele menino, e
contar tudo que ele viveu para o mundo, desde seus sorrisos até suas
lágrimas, o olhar de gratidão. Sua ascensão durou pouco tempo – a
imagem antológica aconteceu em 2009, e alguns meses depois Diego nos
deixou. Entretanto, Salles afirma que esse breve período deve ser
eternizado e servir de estímulo para todos aqueles que, mesmo diante das
piores situações, conseguem encontrar um motivo para sorrir.

“Este livro é um convite para que possamos ressignificar nossas vidas.
Fazer valer a pena nossa existência, realizar sonhos e construir um mundo
melhor, para todos. Diego era um garoto preto, pobre, que morava em
uma comunidade cercada pela violência e pela desigualdade no Rio de
Janeiro, e mesmo diante dessa realidade, mostrou seu talento e serviu
como inspiração para tantas outras crianças”, completa o escritor.

O autor conta ainda que, durante a conversa com a irmã do garoto, ela
revelou aquilo que acredita ser o seu maior legado – “Não importa como
esteja a nossa vida, que a gente viva com muita alegria, disposição e amor,
assim como o Diego viveu a dele”, disse ela. A frase ecoou em sua cabeça,
e despertou o desejo de fazer mais.

Por isso, uma de suas intenções é que o lançamento do livro promova um
maior debate sobre os projetos sociais que levam cultura e esporte para
dentro das comunidades, para pessoas, muitas vezes, invisíveis. Para ele,
exemplos como o do AfroReggae em Parada de Lucas – encerrado pouco
depois da morte do rapaz – devem se tornar cada vez mais presentes,
trazendo um espaço mais inclusivo, abrindo portas e transformando vidas.

“Não poderia deixar de sonhar com a possibilidade de novamente
proporcionar aos moradores, onde a história do menino do violino ficou
registrada, o retorno deste projeto fantástico que infelizmente acabou.
Com o apoio da comunidade, dos governos, das empresas e até mesmo de
ex-alunos tenho certeza que podemos formar novamente a ‘Orquestra
Diego Frazão Torquato’”, finaliza.

“Anjo do Violino: Lágrimas de gratidão” foi lançado na segunda-feira, 4 de
dezembro, na Livraria Travessa do Barra Shopping, zona oeste do Rio de
Janeiro. O evento reunirá ainda uma pequena orquestra de amigos do
rapaz e músicos, que irão homenageá-lo. Publicado pela editora Gôndola,
parte de toda a renda obtida com as vendas do livro será destinada à
família do Diego.

Mais informações em https://www.instagram.com/josimarsalles/?hl=pt;

Adquira o livro em https://editoralacre.com.br/;

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